H. P. Lovecraft - Os Melhores Contos

Há coisa de um século, surgiu nas páginas da revista "Weird Tales" um dos mais influentes escritores do século passado. A sua obra influenciou as mais diversas obras, desde Bloodborne a Stephen King, dando origem a todo um novo subgénero de horror, e concebendo uma das mais populares personagens fantásticas, o nosso amigo e tentacular Cthulhu. Trata-se do escritor referido no título, H. P. Lovecraft.

Dado a sua influência e celebridade, já há algum tempo que decidira ler algo da sua autoria. Surgiram dois problemas. O primeiro era que não sabia bem por onde pegar no bicho. A obra de Lovecraft extende-se ao longo de muitos contos, sem sequência definida. Só sabia que o que queria ler definitivamente era "O Despertar de Cthulhu". O outro era que não encontrava Lovecraft à venda, pelo menos uma edição que me parecesse decente.
Então que encontrei na fnac um livro intitulado "H. P. Lovecraft - Os Melhores Contos", uma tradução de Lovecraft realizada por um professor da Universidade Lusófona e respectivos alunos. Gostei do aspecto do livro, incluía "O Despertar de Cthulhu", o pequeno prefácio era apelativo, e portanto decidi-me a comprá-lo.

Não falarei de nenhum conto em específico, mas sim da obra de Lovecraft no geral (pelo menos referente à pequena fracção que li). Lovecraft escreve principalmente na primeira pessoa, por norma a relatar factos já ocorridos, mais ou menos como se tratasse de uma confissão deixada por escrito. Os contos relatam acontecimentos sobrenaturais, em que a linha que separa o real do irreal se atenua, quando o homem se vê deparado com dimensões cósmicas, muito para lá da sua compreensão. No entanto, é sempre deixada em cima da mesa a possibilidade de que tudo se trate não mais do que um sonho e alucinação, causados por sugestão subconsciente proveniente do conhecimento, por parte da personagem a quem tais coisas ocorrem, de lendas antigas, livros proibidos, e outros tantos elemento do oculto.

Cthulhu esboçado por Lovecraft

A escrita de Lovecraft é repleta de adjetivos, e demora-se nas descrições. No entanto, estas descrições focam-se principalmente nos elementos sobrenaturais, servindo para ir progressivamente aumentando o conhecimento do leitor do mundo onde se encontra. O horror de Lovecraft surge não de sangue e violência, mas de ideias de um mundo muito maior do que aquele que conhecemos, escondido de nós, mas perto o suficiente para o sentirmos.

Lovecraft cria uma autêntica mitologia, um panteão de seres fictícios e fantásticos, que se mantém constante e firme entre contos, oferecendo um olhar sobre a história da terra e do cosmos muito à semelhança do que nos é dado pela mitologia nórdica, por exemplo, embora a mitologia de Lovecraft seja bastante mais horrorosa. Foi esta a parte que mais apreciei no livro, a construção de todo um sistema de entidades fantásticas e de respectivas histórias, que apelam ao meu grande interesse por mitologia.

Não falarei mais de Lovecraft, mas sim do livro que li. Se repararem, o título desta publicação não é "H. P. Lovecraft". É "H. P. Lovecraft - Os Melhores Contos". Isto porque o livro que li oferece muito mais do que apenas os contos compilados e traduzidos. Em primeiro lugar, há estética da coisa. Cada conto é precedido por uma página de título, que incluí: No topo, uma pequena imagem de qualquer bicheza estranha, emoldurada por tentáculos; uma pequena frase de introdução acima do título (por exemplo: "Duas pessoas foram para ao Asilo de Denvers depois de lerem..."); o título; a data e nome original de publicação do conto; o tradutor; e o título do tradutor (por exemplo: "Aluna na Universidade Lusófona e cultista de Nyarlathotep"). São pequenos pormenores estéticos que em nada melhoram os contos, mas ajudam o leitor a situar-se numa revista sensacionalista dos anos 20, e constroem o ambiente do livro. Aproveito para deixar a minha frase introdutiva preferida: "Antes de começar a ler, escreva o seu testamento".

Foto muito profissional tirada por mim

Depois há as introduções. Cada capítulo é introduzido por um pequeno texto da autoria de Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, e na minha muito humilde opinião, cada introdução vale tanto como o conto referente.São realmente muito intrigantes, enquandrando-se perfeitamente com a obra de Lovecraft. Não consigo fazer jus às introduções, por mais que escreva.

Portanto, fica aqui a recomendação de que leiam este livro. Não só pelo Lovecraft, mas também por todo o trabalho adicional feito pelos tradutores e pelas introduções de Fernando Ribeiro.
H. P. Lovecraft é um dos maiores escritores do século passado, e esta é, sem dúvida, o melhor livro para se ler a sua obra em português.