Jogo da Apanhada
Toda a gente já jogou à apanhada na
vida, espero eu. Só se alguém nasceu com, por exemplo, 40 anos é que nunca jogou
à apanhada. Mesmo assim não é desculpa e este filme comprova-o.
“Jogo da Apanhada” é uma comédia
inspirada numa história verídica (já consigo sentir a excitação das pessoas que
gostam da realidade). O filme é sobre um grupo de cinco amigos (Jerry,
Callahan, Hoagie, Randy e Sable) que se conhecem desde crianças e que, nessa altura,
jogavam à apanhada (que grande novidade). Passados cerca de 30 anos, quando todos
são adultos (seria estranho se só alguns envelhecessem) e têm uma vida
distinta, eles continuam a jogar à apanhada, tendo o jogo ganho outras
dimensões. Agora, o jogo ocorre “apenas” durante o mês de maio inteiro e é um
vale-tudo (vá… há exceções, afinal de contas eles são todos amigos, portanto é
mais um vale-quase-tudo). Para terem uma noção da dimensão do jogo, vou contar
apenas o início do filme:
Portanto, este começa com Hoagie
numa entrevista de emprego para ser empregado de limpeza numa empresa
relativamente grande (não é relevante qual era, até porque não me lembro) na
qual o seu amigo Callahan tem um cargo importante (se é que ele não é mesmo o
CEO, mas, mais uma vez, não me recordo). Já estão a ver onde isto vai parar,
certo? Hoagie conseguiu o emprego, mascarou-se (peruca, óculos, bigode falso) e
entrou a meio de uma entrevista que uma jornalista estava a fazer a Callahan
para “limpar” a sala onde se encontravam. Após Hoagie se ter desmascarado e
Callahan ter sido apanhado, Hoagie avisa o amigo que Jerry se vai “reformar” da
sua carreira de jogador da apanhada no final de maio sem ter sido apanhado uma
única vez na vida, contudo teriam uma oportunidade de o apanhar no seu casamento.
Desta forma, Callahan abandona a sua entrevista a meio (sim, o jogo chega a
este ponto, mas não se preocupem que a jornalista vai com eles para fazer uma notícia
sobre jogo) e os dois amigos seguem para se reunirem com Randy e Sable e depois
seguirem viagem para o casamento de Jerry.
É muito interessante ver os
estratagemas que inventam para tentarem apanhar-se uns aos outros e a maneira
como envolvem as pessoas que os rodeiam. Por exemplo, apesar de não fazer parte
do jogo, a mulher de Hoagie foi envolvida de tal maneira nele que, em
determinadas partes do filme, ela vive o jogo mais do que os cinco amigos
juntos, acabando por ser uma peça crucial, mantendo-os motivados e o jogo vivo.
Pela descrição que tenho feito do filme quase que parece que a vida deles
depende do jogo como a vida de metade do universo em “Vingadores: Guerra do
Infinito” depende dos Vingadores para impedir que Thanos apague a sua
existência, o que em parte é verdade, e esta dependência dá origem a cenas que
conseguem fazer de um filme de comédia um filme de ação também (o oposto do que
têm feito aos filmes do Universo Cinemático da Marvel). Por falar em “Vingadores:
Guerra do Infinito”, é bom saber que o Gavião Arqueiro está a jogar à apanhada
enquanto o resto dos Vingadores está a tentar salvar o universo (salvar o
universo é giro e tal, mas prioridades).
O filme gira à volta deste simples
conceito de jogar à apanhada e da expressão “We
don’t stop playing because we grow old; we grow old because we stop playing.”
(“Não deixamos de jogar porque crescemos; crescemos porque deixamos de jogar.”)
de George Bernard Shaw (que não faço ideia quem seja ou tenha sido). O filme
não é de ficar com o coração nas mãos, não é intenso e, provavelmente por causa
disso, nunca vai ser considerado como um dos melhores filmes de sempre (nem lá
perto), seja por quem for. Eu não o considero como tal e acredito que quem
tenha trabalhado nele (atores, realizadores, etc…) também não o faça. No
entanto, o filme desempenha impecavelmente o seu papel.
Lembram-se do que é que escrevi no
início do texto acerca do filme? “O filme é sobre um grupo de cinco amigos (…).”.
O filme não é sobre o jogo da apanhada, o jogo é um pretexto para o filme
abordar o seu verdadeiro tema: a amizade. Por muito ridículo que seja jogar à
apanhada na idade adulta para algumas pessoas (e eu já ouvi pessoas a partilhar
dessa opinião, nada contra, mas se conseguissem atirar-se para a frente de um
camião ou de um autocarro de forma a parecer um acidente porque o condutor,
coitado, que não tem nada a ver com isto, não deve ser punido, eu agradecia – É
UMA PIADA, POR FAVOR, PESSOAS DA INTERNET, NÃO SE INDIGNEM), eu gostava de
partilhar uma tradição parecida com o meu grupo de amigos. Acaba por ser
irónico o facto do pretexto para se manterem juntos seja jogar um jogo cujo
objetivo seja fugir uns dos outros.
Não quero dizer que o segredo para
a amizade seja jogar à apanhada. Aliás, não há um segredo para a amizade. A
amizade é algo complexo que necessita de pequenas coisas simples como jogos da
apanhada. Já agora, eu não sei o quão fútil e superficial se encontra o mundo no
momento (nem vale a pena saber), mas para aqueles que ainda não acordaram para
a vida: uma das coisas simples NÃO é ser amigo no Facebook, ou ter likes
nas fotos do Instagram ou raios que
os partam. ‘Tamos conversados? Espero que sim.
Como disse anteriormente, o filme
desempenha o seu papel de forma impecável. Através da parvoíce, da
competitividade, da cumplicidade, entre outras coisas, o filme dá um enorme
destaque à importância da amizade, visto que é algo que toda a gente precisa, que toda a
gente deve ter se quer ser feliz. Eu sei que estou a dizer algo muito genérico,
mas pensem um bocado na vossa vida, nos bons momentos, e nos maus também. Tenho
quase a certeza que os melhores momentos da vossa vida ocorreram com os vossos
amigos, por causa deles, e que os piores momentos deixaram de ser tão maus por
causa deles também. Nem que tal tenha acontecido “apenas” com a presença deles,
que às vezes é tudo. “Whatever you do in
this life, it’s not legendary, unless your friends are there to see it.” (“O
que quer que faças nesta vida, não é lendário, a não ser que os teus amigos
estejam lá para ver.”) é provavelmente a melhor frase que pode descrever este
filme e a importância da amizade. Podia passar o resto da minha vida a tentar
falar sobre a amizade e ainda assim não conseguiria arranjar algo que a
definisse melhor. Já agora, esta frase foi dita pelo personagem Barney Stinson
da série “How I Met Your Mother” (“Foi
Assim Que Aconteceu” em Português).
O filme não tem muito mais que se
lhe diga. É um bom filme, muito cómico e com
uma grande mensagem. Vejam-no (com os vossos amigos se puderem)!
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