Celeste

Eis-me aqui outra vez, a falar de mais um jogo platformer que ultrapassou as minhas expectativas. Pelo menos este não é metroidvania. Tenho de começar a jogar jogos doutros géneros. Mas falemos então de Celeste, a mais recente adição à minha lista de "melhores platformers".


Em Celeste, o jogador controla um personagem chamada Madeline. O quê? Estavam à espera que a personagem se chamasse Celeste? Que ideia a vossa. Celeste é nome da montanha que Madeline quer escalar. E é esse o tema da história. Escalar a montanha Celeste. E não, não é com um martelo.



Durante a nossa escalada, vamos conhecer algumas personagens. Não são muitas, mas as que são valem por muito. São divertidas, é difícil não gostar delas, e o jogo faz um óptimo trabalho a por-nos preocupados com as suas histórias. A história do jogo é mais pesada do que o que aparenta, com um grande foco na depressão. Assim, a subida da montanha tem também um valor figurativo, enquanto vemos o esforço da Madeline a enfrentar os seus demónios interiores. A história vale bem a pena por si só, ainda para mais sendo complementada com gameplay divertida, e aspecto visual de fazer uma pessoa babar-se.



Falemos agora da gameplay. O jogador tem a seu dispor um salto, e um dash. Pode saltar das paredes, trepar (desde que não fique cansado), e existem também objectos espalhados pelo mundo que ajudam Madeline a movimentar-se. Existem imensas maneiras de controlar Madeline e interagir com estes objectos, algumas das quais só descobri após vencer o jogo. Existem também vários obstáculos (porque, afinal, qual é o jogo que não os tem?), alguns são algo irritantes. O jogo é difícil, mas nunca me frustrou. Só tive problemas com o dash. O dash tem oito direcções. O meu problema foi que, usando comando, Madeline fazia dash para cima, por exemplo, quando eu podia jurar que estava a empurrar o analógico para cima e para a direita. Se era problema do jogo, do comando, ou da minha inaptidão, quem sabe? Mas como os checkpoints são bastante abundantes, não houve crise de maior. No entanto, se estiverem a ter problemas, podem sempre ativar o modo de assistência, que tem várias opções para tornar o jogo mais fácil. Eu nunca o usei. O modo assistência não é a forma como o jogo foi desenhado, nem vão ter a experiência que os devs querem que tenham se o usarem, o que é bastante bem realçado se tentarem usá-lo. Claro que não tem mal nenhum usá-lo se estiverem mesmo presos (até porque não há contrapartida), mas tentem sempre não usá-lo antes de falharem várias vezes.



Existe a meio do jogo um pequeno computador que o jogador pode encontrar, chamado PICO-8, no qual podemos jogar um minijogo chamado Celeste, que é, mecanicamente, muito idêntico a Celeste (o jogo a sério). O objetivo também é escalar a montanha Celeste, temos praticamente os mesmos controlos, e até o mesmo power up. Eu comecei a jogar, e estava a divertir-me com aquilo. Ao ponto que me esqueci de jogar Celeste porque estava a jogar no PICO-8. E então é que me apercebi do ridículo da coisa. Eu estava a procrastinar, jogando um jogo chamado Celeste sobre escalar uma montanha chamada Celeste, no qual estava a procrastinar, jogando um jogo chamado Celeste sobre escalar uma montanha chamada Celeste. UAU. O problema é que depois joguei Celeste com a mentalidade de quem está a jogar no PICO-8.




O jogo é lindo. Muito lindo. Há partes muito lindas que queria mostrar, mas infelizmente, daria spoilers se o fizesse. A música também é excelente. Aliás, estou a ouvir o soundtrack de Celeste enquanto escrevo isto. Vou aproveitar aqui para dizer que houve um momento do jogo que me surpreendeu. Sem dar spoilers, há uma coisa que uma personagem diz, que vai-se a ver, e existe mesmo no mundo real. Demonstra a dedicação dos desenvolvedores.

 

Há aproximadamente meia dúzia de níveis principais. Podem não ser muitos, mas são grandes, e cheios de charme. Em cada nível há uma quantidade de morangos, os coleccionáveis cujo único propósito é poderem gabar-se aos vossos amigos, e também uma cassete por nível. Cada cassete desbloqueia uma variação do nível, chamada b-side, que, apesar de ter as mesmas bases que o nível original, é bastante mais complicado. Completando todos os b-sides, e apanhando todos os cristais (outro tipo de colectável, existe um por nível), desbloqueamos as c-side missions. Que são ainda mais complicadas. Só para terem uma noção, no primeiro nível, o primeiro de todos, sem ser b-side ou c-side, eu morri umas vergonhosas cento e trinta vezes. E foi o nível onde menos bati a bota.



Este jogo é desafiante, sem ser frustrante, é leve, sem ter as histórias complicadas e expansivas de outros jogos, mas sendo profunda (e heartwarming) à mesma. Joguem este jogo. Vale bem a pena.

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