Uma Arte Perdida...

Escreveram-me uma vez: “Tu és um gajo que sabe deitar-se na relva e ver a lua. É uma arte perdida…”.
De facto, uma pessoa deitar-se na relva e ver a lua e as estrelas tornou-se uma arte de tal forma perdida, e não quero parecer arrogante, que nem eu a sei praticar muito bem. Contudo, é uma arte magnífica.
É excelente estar a olhar para as estrelas e elas estarem a olhar para nós. Mentira, na realidade só nós é que observamos as estrelas, elas estão-se a borrifar para nós, mas isso é mais uma razão para esta arte ser tão especial. Relembra-nos da nossa pequenez e insignificância face ao Universo. Yup, pequenez e insignificância. Ao longo de toda a História da Humanidade se ouviu falar de homens e mulheres grandiosos à escala humana (Jesus Cristo, Leonardo da Vinci, Vasco da Gama, Marie Curie, Fernando Pessoa, Albert Einstein, Malala Yousafzai), mas a uma escala universal estas personalidades são/foram tão pequenas e insignificantes quanto qualquer um de nós. Não importa se pintou a Mona Lisa, se descobriu o caminho marítimo para a Índia ou se descobriu a cura para o cancro. O Universo não quer saber disso para nada. São tudo feitos maiores do que nós, humanos, daí a sua importância à nossa escala, mas não são feitos maiores do que o Universo em si. Até pode haver um propósito maior do que nós (e é bom que haja), mas nunca há um tão grande que chegue ao nível do Universo, não há um sentido universal da vida, apenas um sentido pessoal, humano da mesma. Por muito arrogante que uma pessoa seja em pensar que importa, é bom que se desengane, ela não importa mais do que ninguém nem é (nem nunca será) o centro do Universo e esta arte trata de nos reduzir à nossa insignificância e apreciar a beleza do Universo.
Enquanto contemplamos o céu, o mundo para, descansa, inspira e expira por meros instantes, diminui o seu ritmo, que grande parte das vezes passa por se apressar para tentar não perder o comboio da vida, de forma a acompanhar a quietude do Universo. Isto acalma a alma de uma pessoa desalmada. Esta arte oferece exatamente o que uma pessoa precisa: nada. Vá, se calhar, de vez em quando, uma pessoa precisa de algo que a mantenha quente: um casaco, um cobertor, um saco-cama, música talvez (um ganda jazz ou lo-fi hip-hop) ou simplesmente companhia que dê a mão, abrace e beije de vez em quando. Não é preciso muito mais do que isto.

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