Owlboy (Uma jornada nove anos em desenvolvimento)

Hoje trago-vos um jogo indie de aventura que demorou nove anos a ser feito. É um jogo bonito, não só em termos de aspecto, mas também em termos de história, mundo e personagens.



A personagem que o jogador controla é Otus, a personagem que se vê a voar na imagem acima. Otus, no entanto, não consegue fazer muito por si próprio. Pode voar, pegar em coisas, rodopiar e rebolar. Agora, para avançar no jogo, é necessário mais do que isso. Principalmente, saber disparar armas. E é aí que entra o sistema de party. Se olharem para final fantasy, a party significa que todas as personagens da party vão aparecer em batalha e lutar lado a lado. Neste jogo, têm uma party com no máximo três personagens, e o que fazem é "tirar uma do bolso" de cada vez, para andar com elas penduradas, sendo que elas disparam, e Otus voa.

Um dos primeiros encontros de combate

Cada personagem de apoio tem armas/habilidades diferentes.  Por exemplo, a primeira que se desbloqueia tem uma pistola com alcance médio e dano baixo. A segunda, uma caçadeira que tem pouco alcance, mas um dano bastante elevado. Só que tem um tempo de reload enorme. Já vi gente a reclamar disto, a dizer que ter de andar sempre a trocar de personagem durante a batalha é contra intuitivo e estraga o desenrolar do combate. Eu discordo. Esta mecânica força o jogador a trocar constantemente de arma durante o combate, o que significa que tem de gerir o que usa, quando usa, e oferece uma experiência diferente. Como está bem feito, enquadra-se muito bem no jogo. Aliás, para isto não acontecer, era preciso que uma personagem fosse melhor que as outras, o que ia contra um dos principais temas do jogo, do qual falarei adiante.

Uma bonita paisagem
Os bosses do jogo podem resumir-se a duas categorias: os principais, e os secundários. Os bosses principais são sempre um desafio, são interessantes, e têm implicações para a história. Os secundários são, na sua maioria, spam de minions que apareceram anteriormente no nível. O que compensa essa mediocridade, são as animações dos bosses, em especial de um certo macaco, que estão muito bem feitas.

Um dos primeiros bosses
O mundo é aberto, e consiste numa grande quantidade de áreas interligadas. Não há quest marker, nem mini mapa, nem nada que nos indique para onde ir. A única coisa é um pequeno lembrete no menu, tipo: "encontra a entrada secreta da base dos piratas". Eu adoro isso. Força-nos a explorar e a pensar onde poderá ser o caminho, ao invés de seguirmos cegamente uma setinha no ecrã.


Uma das primeiras áreas do jogo
Em termos de aspecto, o jogo dificilmente poderia ser melhor, e o mesmo se pode dizer do soundtrack. Tem um estilo retro, mas feito de maneira a ser bonito pelos standards de hoje. As animações são impecáveis. É sempre possível ler nos poucos pixels que fazem as caras das personagens as suas emoções. Mas uma imagem vale mais do que mil palavras, por isso, fiquem com esta pequena galeria.




Possui alguns puzzles básicos, nada de muito complicado, e eu só fiquei preso uma vez, porque não percebi que podia agarrar um certo npc.

Um puzzle, não aquele em que fiquei preso
É possível ver que o jogo foi buscar de diversas inspirações. Por exemplo, a Metal Slug, nas explosões dos inimigos quando são mortos.

Ditas explosões ao derrotar um inimigo
Outra coisa que o jogo fez muito bem feito, foi o ritmo. Está sempre a acontecer qualquer coisa, mas não o suficiente para "esmagar" o jogador. Há dois ou três momentos em que o jogo abranda, mas de resto, o jogador praticamente passa sempre de uma coisa directamente para a outra. Num momento está a explorar um templo abandonado, no seguinte está a defender uma cidade de um ataque pirata.

Uma nave pirata
O jogo gosta de introduzir mecânicas diferente de estilos de jogos diferentes, e nunca mais as usar outra vez. Isto dá a certas situações uma individualidade que merece reconhecimento, e uma variedade ao jogo que encaixa muito bem. Por exemplo, quando o jogo foi Metal Gear com uns gnomos, ou quando o jogo foi, durante trinta segundos, um runner.

Faz falta uma caixa
As personagens são únicas, pitorescas e lembram as personagens de undertale. Sente-se que cada uma tem uma personalidade diferente, e nenhuma existe só para encher. Sinceramente, a melhor maneira de vos mostrar isto, seria com um vídeo de todas as interacções entre personagens. De outro modo não consigo fazer justiça ao jogo.
Um par de personagens secundárias
Falemos agora da história do jogo. Tal como referido anteriormente, nós controlamos Otus. Otus é uma coruja aprendiz, e é mudo. Ao contrário de outros jogos, que usam o personagem controlável mudo como recurso para o jogador sentir que é o personagem que controla, em Owlboy a mudez de Otus é usada como parte da história, e ajuda a moldar o mundo e personagens em volta. Porque sendo Otus mudo, toda a gente se esforça para o ajudar, e o fazer sentir parte da sociedade. Estou a brincar, claro. O que eles fazem mesmo é bullying.



A história do jogo é muito boa. Começa bastante simples, e vai desenvolvendo até um final tão bom, que eu poderia escrever dois ou três posts sobre ele. Um resumo não faria justiça à história do jogo, e eu não consigo fazer um melhor trabalho do que o jogo a transmitir a sua história, por isso, vamos falar antes de como o jogo trata a jornada de Otus. Otus é, desde o início do jogo, tratado como um incompetente, e mesmo quando se esforça e faz tudo o possível para ajudar, continua ser visto como um estorvo. As personagens que fazem parte da party, também são "underdogs". Este jogo não é sobre alguém a descobrir que é melhor que os outros, que tem um dom especial, que foi escolhido, etc. e a salvar o mundo (tipo: Dragonborn, Link, etc.). É sobre alguém a descobrir que não é menos que os outros (e também salvar o mundo). Esta mensagem seria estragada se um dos personagens da party fossem mais fortes que outros.
Uma cena inicial, que, em contraste com a cena final (da qual não falarei devido a spoilers) ajuda a retratar a evolução de Otus durante o jogo

Gostam de plataformer, de jogos ao estilo metroidvania, de fantasia? Joguem este jogo. É um dos melhores jogos indies que eu já joguei, e o melhor que está neste nosso blog (pelo menos, até agora).

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