Kingdom Hearts
Saiu recentemente Kingdom Hearts 3, para a PlayStation 4,
acompanhado de um bonito pacote que inclui todos os jogos anteriores,
apropriadamente denominado “All-in-One”. No que talvez terá sido o meu
investimento mais arriscado, em termos de jogos, comprei este pacote apesar de,
e de certo modo também por, nunca ter jogado um jogo da franquia. Resumindo o
texto que se segue, valeu bem o seu custo.
Comecemos pela premissa base do jogo. Kingdom Hearts é o que
acontece quando Final Fantasy e a Disney têm um filho. É um grande cross-over,
um rpg de ação, onde figuram personagens de Final Fantasy, todas anime e edgy e
com histórias trágicas, e o Winnie The Pooh. Há mais personagens da Disney, mas
o que interessa mesmo é o Winnie The Pooh. Aliás, todo o resto do jogo é uma
missão secundária, a história principal passa-se no Bosque dos Cem Acres.
Portanto, dizia eu, o Kingdom Hearts é uma história muito
Final Fantasy, onde se visitam mundos da Disney. Por exemplo, são visitados os
mundos de filmes como: Alice no País das Maravilhas, Hercules, Nightmare Before
Christmas, Winnie the Pooh, e Piratas das Caraíbas. Em cada mundo da Disney
explora-se um pouco a história do filme que lhe está associado, mas com muito
pouco interesse para a história principal.
A história é infame de complicada que é. Chega a ser uma
verdadeira marmelada, mas após jogar todos os jogos de seguida, sinto-me
confiante em dizer que percebo o que se passa. É verdadeiramente extensa e
complexa, portanto, resumirei apenas a premissa principal do primeiro jogo.
Cada coração tem a sua escuridão. Quando a escuridão toma posse do coração, a
escuridão transforma-se num heartless, um ser sem coração que fica “agarrado”
ao coração do qual tomou posse. Os heartless são atraídos aos corações, como
zombies, e ao derrotarem alguém, fazem com que a escuridão se apodere do seu
coração, criando um novo heartless. Os próprios mundos têm coração, e os
heartless são naturalmente atraídos para estes, devido ao seu tamanho. Quando a
escuridão se apodera do coração de um mundo, o mundo cai no reino das trevas,
aka vai com os porcos. Algumas das pessoas que estavam nesse mundo sobrevivem e
vão à deriva parar a outros. O Rei Mickey desaparece do seu castelo um dia,
deixando uma carta a informar que partira em busca de informações acerca da
pandemia de heartless, instruindo Donald e Pateta para procurarem o escolhido
da Keyblade, a única arma capaz de matar um heartless (bater-lhes com qualquer
outra faz apenas com que estes reapareçam noutro local). Entretanto, um rapaz
chamado Sora vê o seu mundo invadido por heartless, os seus amigos a desaparecer,
e a Keyblade aparecer-lhe nas mãos. O mundo vai efetivamente com os porcos, Sora vai parar a
outro mundo, onde se encontram Pateta e Donald, e agora quer encontrar os seus
amigos, Kairi e Riku. E isto é a versão curta e muitíssimo simplificada da
situação inicial de Kingdom Hearts 1.
Resta-me dizer que gosto genuinamente da história de Kingdom
Hearts, das suas personagens e das suas complicações. Acho que é daquelas
coisas que se adora ou se odeia. Tem o problema de ser bastante complicado
entrar na franquia a meio. Jogos mais recentes adicionaram resumos aos extras,
para uma pessoa se situar, mas aqueles colossos têm mais texto que os Maias
(embora sejam de longe mais interessantes).
Uma tendência curiosa nestes jogos é que o número de
personagens de Final Fantasy tem vindo a diminuir, à medida que as personagens
originais de Kingdom Hearts vão aumentando. Em Kingdom Hearts 3, não existe uma
única personagem de Final Fantasy.
Abrindo aqui um paragrafo para falar de algo que não
consegui encaixar bem em mais lado nenhum, nos jogos principais da franquia (Kingdom
Hearts 1, 2 e 3), entre cada mundo existe um seguemento de Gummi Ship, a
viagem, em que basicamente é um Star Fox, andamos com a nave a disparar para o
que nos parece em frente.
Vou falar agora um pouquinho de cada jogo, não falando da
história porque, francamente, ficava aqui o dia todo. Cada jogo precisa das
histórias anteriores. Abrirei três exceções a esta regra. Para além disso,
também não classificarei Kingdom Hearts 3 em relação aos outros. Acabou de sair
e acho que ainda é demasiado cedo para qualquer pessoa fazer julgamentos
desses.
Kingdom Hearts Final Mix
O jogo que começou tudo.
Tem a história mais simples, a maior presença de Final Fantasy. Têm também os níveis mais básicos, o combate mais simples, enfim, é o
primeiro, ainda estavam a descobrir o que estavam a fazer. Os mundos da Disney
são na sua maioria simplificações grosseiras da história do filme associado, ou
simplesmente visitas ao mundo antes do filme acontecer. A sua esmagadora
maioria não tem efeito nenhum na história principal. Os níveis de Gummi Ship
são os mais básicos, parecendo ter sido com recurso a place holders. Tudo isto
são problemas de ser o pioneiro, e mesmo assim, é um jogo bastante divertido.
Não é exatamente o mesmo jogo que saiu para a PlayStation2 em 2002, tendo a versão Final
Mix sofrido algumas alterações, cito: “recoloring
Heartless and introducing new Heartless, new weapons, new enemies, new abilities,
new cutscenes, Gummi Ship missions, new Ansem Reports (isto são textos de
lore desbloqueáveis), and a new secret
movie”. A adição mais importante a esta versão foi terem adicionado a opção
de saltar cutscenes.
Kingdom Hearts Re: Chain of Memories
A ovelha negra da família.
É aqui que a história vira
esparguete, e certas decisões sobre como introduzir novas personagens são
discutíveis. Muita coisa não é explicada neste jogo, e o jogador passa quase o
tempo todo sem perceber o que está a acontecer. O que safa é que o Sora também
não percebe nada, portanto não estamos sozinhos. Convém dizer que sem passar
este jogo, uma pessoa fica bastante confusa no Kingdom Hearts 2. Passa-se entre
Kingdom Hearts e Kingdom Hearts 2, não introduzindo mundos novos, apenas
revisitando. Os mundos são muitas salas quadradas, geradas no momento em que o
jogador entra, usando um sistema de cartas para definir como será a sala. É
repetitivo. Muito. O combate é feito também à base de cartas. Mas é também em
tempo real, e em termos de posicionamento é igual a Kingdom Hearts, ou seja,
enquanto se anda a navegar um baralho de 40 cartas, é preciso andar a desviar
de ataques e etc. Enfim, não é gameplay nem para mim nem para muita gente. Há
quem goste bastante. Pessoalmente, gostaria muito mais se não fosse constantemente
interrompido, o que leva cartas a desaparecerem. Há bosses que são crimes
contra a dignidade humana. Depois de passar a história com o Sora, jogamos com
outra personagem, a gameplay é ligeiramente melhor. Ou pelos menos foi o que me
disseram. Eu não cheguei a passar Chain of Memories, não me estava a divertir e
queria muito passar a Kingdom Hearts 2.
Kingdom Hearts 2 Final Mix
A jóia da coroa (kh3 não incluído).
Considerado o melhor da
franquia, Kingdom Hearts 2 é fantástico. As melhores missões de Gummi Ship,
mundos novos, mundos velhos, das melhores gameplays da franquia, uma muito boa
história, sendo aliás, o jogo em que a comecei a adorar, excelentes
personagens. Enfim, Kingdom Hearts 2 é realmente fantástico. Tem uma introdução
demorada em que pouco acontece. É o único jogo onde se volta aos mundos mais
que uma vez, tem uma data de conteúdo secundário, uma data de bosses opcionais.
Tem também um boss que é só parvo de tão difícil que é. Fizeram um feito tecnológico que foi fazer batalhas contra um milhar de adversários simultaneamente na PlayStation2. Enfim, não tenho muito
a dizer sobre este jogo. É fantástico, jogai-o.
Kingdom Hearts: 358/2 Days
A cereja no topo do bolo que é Kingdom Hearts 2. O jogo
original saiu para a Nintendo Ds, e o que está na PlayStation4 não é o jogo, mas sim uma
coletânea de cutscenes que foram refeitas com gráficos decentes. Portanto, só
se fala mesmo da história. Esta é, na minha opinião, a melhor, quando vista
individualmente. Passa-se entre Kingdom Hearts 1 e 2, do ponto de vista de
outras personagens que não Sora e amigos. É de longe a história com a qual o
jogador consegue sentir mais empatia. Nas outras, é salvar o mundo das trevas e
viva a luz e abaixo organizações do mal. Não é propriamente o que se pode
considerar relatable. Já 358/2 é a história de três amigos a tentarem descobrir
quem são e o seu propósito, e mais importante de tudo, a verem o tempo
tirar-lhes o pouco de bom que tinham, uns aos outros, em prol de propósitos de
outrem que não entendem. E é este ver afastar-se os bons tempos que tomaram por
garantidos que cria, talvez pela primeira vez na franquia, uma sensação de empatia
no jogador. Vale a pena ver. Para além disso, inclui algum conteúdo extra que
ajuda a construir o mundo de Kingdom Hearts, o que é sempre agradável.
Kingdom Hearts: Re:Coded
Tal como 358/2, este é também uma coletânea de cutscenes,
visto o jogo original ter saído primeiro para telemóvel, e depois para a
Nintendo Ds. A história não é assim nada de especial, e é no fundo, um jogo
muito inconsequencial. Ou era, até Kingdom Hearts 3 sair. Mesmo assim, se há
algum jogo que se pode saltar, é este.
Kingdom Hearts: Birth By Sleep
Um dos top 3.
Este jogo é uma prequela que saiu para a psp,
passando-se aí uns 10 anos antes de Kingdom Hearts. Mostra-se aqui a origem de
praticamente tudo o que acontece no resto da franquia. A gameplay é muito
divertida, desde que nos habituemos ao ângulo da camara que, devido à psp, é
muito mais baixa e próxima da personagem jogável. Falando em personagem
jogável, aqui são 3. O jogo tem de ser passado três vezes, cada uma delas da
perspetiva de uma personagem diferente. Tem um sistema de comandos bastante
apelativo, sendo possível combinar comandos para criar novos. Trocaram alguns
botões, como o de abrir baús, que passou do triângulo para a cruz, o que me
atrofiou quando comecei a jogar.
Kingdom Heart: Dream Drop Distance
Aqui temos um título bizarro.
Este jogo tem gameplay
bastante parecida com Birth By Sleep, com a adição de uma coisa chamada
FlowMotion, o que faz atravessar mundos muito mais agradável. Tem também um
sistema de pokémons criaturas colecionáveis que ajudam em batalha e
desbloqueiam habilidades. Este jogo basicamente constrói as fundações de
Kingdom Hearts 3, sendo indispensável, mas é dos mais confusos. Vale a pena
jogar, embora tenha um boss que considera engraçado roubar-nos a vida toda,enquanto se cura a 100%, com um ataque indesviável. Mas vá, fora isso, é
divertido.
Kingdom Hearts: Birth By Sleep 0.2
Este jogo passa-se durante Kingdom Hearts, do ponto de vista
de uma das personagens principais de Birth by Sleep. Embora tenha cenas de mais
tarde na linha temporal e mais cedo. Mecanicamente, funciona como Kingdom
Hearts 3, sendo, aliás, mais uma demo para este jogo do que outra coisa. Não é
assim tão importante para a história quanto isso, mas só dura duas horas, a
gameplay é divertida, portanto já que aqui estamos, mais vale jogar também.
Kingdom Hearts X: Back Cover
Kingdom Hearts X era um jogo de browser que já não se pode
jogar. Kingdom Hearts X: Back Cover é um filme de uma hora baseado nisso,
servindo para preencher esse buraco. Passa-se muito tempo antes dos outros
jogos, no início da era, quando só existia um mundo, e deram-se os
acontecimentos que eventualmente levaram aos eventos do resto da franquia. É
importante ver isto para perceber o 3. Além disso é um filme bastante engraçado
e intrigante, cheio de esquemas e desconfiança e a minha personagem preferida. Não
se aguenta sozinho, sendo claramente algo feito para complementar os jogos.
Cria mais questões do que as que responde, e eu espero que eles um dia lhes
respondam. Como disse alguém no reddit, é uma excelente primeira metade dum excelente filme. Pena que seja o filme inteiro.
Kingdom Hearts 3
Tudo o que eu esperava deste jogo foi cumprido. Até o que eu
não esperava cumpriram. Começo por dizer que realmente pegaram em todas as
pontinhas da franquia. Até algumas que eu considerava como atadas esquecidas.
Foram buscar elementos de gameplay a todos os outros jogos, e realmente está um
trabalho fantástico. A gameplay é das mais espetaculares (no sentido de dar
espetáculo) e é também das que mais gostei, inclui uma batalha contra milhares de adversários ao mesmo tempo, enquanto rebenta tudo e há um furacão composto de heartless e os espiritos do passado vêm ajudar e(...). Os mundos são enormes, e já não se
aparentam com uma sequência de salas, sendo muito mais abertos. Já o mundo dos
piratas das caraíbas é Assassin’s Creed IV: Black Flag, só que com combate mais
divertido. Cada mundo é diferente, tem a sua própria identidade, até recriam a
cena do Let It Go. Mais importante, tem um camera mode, para tirarem selfies
com o Sora. No entanto, uma coisa que não gostei foi do novo sistema de Gummi
Ship. Foi alterado para uma espécie de mundo aberto no espaço, que o jogador só
atravessa para ir dum lado ao outro. Não é tão divertido como as missões do
Kingdom Hearts 2. Acerca da história, apenas direi que acaba com um plot twist monumental.
É um jogo fantástico. Jogai-o.
Cada jogo tem uma grande quantidade de colecionáveis, um
bestiário (que todos os jogos deviam ter), minijogos, bosses opcionais.
Completar a 100% não é fácil, mas é ao que me dedicarei nos próximos tempos. A cada jogo que se completa, é desbloqueado um tema para a PlayStation 4.
A música é excecional, composta na sua maioria pela lendária
Yoko Shimomura. Há mais uma mão cheia de músicas compostas e cantadas por
Hikaru Utada, como a música Sanctuary, que é usada na abertura de Kingdom
Hearts 2, e é das mais icónicas da indústria.
Há uns meses desconhecia Kingdom Hearts. Hoje, posiciona-se
no meu top 3. Valeu cada cêntimo. Se nunca jogaram, experimentem. Não sabem o
que estão a perder. fica apenas o aviso que são jogos na sua maiorias muito pesados em cutscenes.
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